sábado, 16 de julho de 2011

 



Você sempre tão exagerada, não quero ser o bobalhão de sempre que não sabe falar sério nesse momento, mas eu preciso dizer… Você sabe que esse vazio todo que você sentiu foi por essa sua mania de beber — de manhã, ainda por cima, menina descuidada — sem comer. E outra coisa, você tem certeza que não viu nenhum carro amarelo passando pela rua não? Ultimamente eu vejo vários. Mas vou direto ao que importa, porque você deve estar fazendo aquela sua cara de ódio quase-mortal só porque eu brinquei. Olha, meu amor — sim, você ainda é meu amor —, eu não peguei avião nenhum. Eu tinha sim comprado uma passagem pra Las Vegas pra casar com alguma loira enquanto eu estivesse bêbado, mas você é morena da pele clarinha e assim que eu coloquei meu pé no aeroporto, eu parei. Parei e fiquei estático. Por que eu te deixaria por uma briga boba? Eu jamais faria isso. Não sem conversar e não se não fosse você quem me mandasse embora. Entendeu? Então, você errou porque você estava bebendo vodka com suco e contando carros enquanto eu estava andando na praça perto da sua casa depois de sair correndo feito criança daquele aeroporto. Eu sentei naquele banquinho que você sabe bem qual é e comecei a pontuar os pontos positivos e negativos da nossa relação, sou experiente em fazer cálculos por qualquer coisinha besta, você sabe… Pois então, fiz minhas contas mentais e se eu não sabia o que sentia por você durante nossa gritaria de horas, eu sei bem agora. Foi aí que eu corri até uma lanhouse e vi se você já tinha dado algum sinal de vida e tinha me mandando uma carta por e-mail. Li a sua carta e reli. E meu coração se encheu de dor porque eu odeio quando você está encolhida na sua cama, me dá vontade de te abraçar pertinho e te sussurrar coisas bonitas… Agora, imagina só, você encolhida na sua cama por minha causa? Desculpa, meu amor. Sim, eu repeti o “meu amor” para reforçar para você. Eu não corri até a sua casa quando eu li, para te escrever a mão isso daqui. Agora que você já deve estar lendo, veste uma roupa e vem aqui na praça. Quero conversar olhando no seu olho. Quero te mostrar que eu também estou tentando. Vai tudo se ajeitar. E não venha com essa de ex-atual-talvezfuturo-amor, ouviu? Sou seu amor. Ponto final. Eu viajei em pensamentos enquanto os carros passavam. Prata, preto, branco, vermelho. Repetitivamente. Pouco me importava a cor dos carros, mas elas grudaram em minha cabeça. Enquanto meus olhos corriam de um lado para o outro da rua, pela minha janela do décimo segundo andar, tudo que eu fazia era pensar em palavras certas e erradas que eu deveria te dizer. Qualquer coisa teria sido melhor que o silêncio. Bobagem, alguém me diria se estivesse lendo meus pensamentos. Eu sei, eu sei, era bobagem. Você provavelmente já estava em um avião na poltrona da janela e com um sorriso no rosto enquanto lia alguma história de monstros e cientistas loucos - você é previsível. Mas enquanto você estava no avião, lá estava eu encostada na janela do meu apartamento, com meu copo de vodka com suco e olhos inchados. Eu deveria ter te impedido de ir embora, eu deveria ter te pedido pra ficar, eu deveria ter te… Droga, por que mesmo que eu não fiz nada disso? Joguei a vodka com suco pelo ralo da pia e caminhei pela casa, vendo pedaços seus por todos os cantos e o enjôo se apossou de mim. Fui lentamente até o quarto e me encolhi em minha cama, sentindo um frio e um vazio. Depois de tanto pensar, de tanto insistir em me jogar tanta culpa pelo nosso último encontro que havia se resultado em um desencontro, depois de tudo aquilo, quando eu comecei a sentir o frio, o enjôo e o vazio, eu me lembrei bem do motivo que me levou a não te impedir de nada: você disse que não sabia mais o que sentia por mim. Simples e complicado assim. Uma interrogação ficou em minha cabeça. Se o meu amor não era o suficiente para que você tivesse certeza do que queria de mim, do que sentia por mim, o que eu poderia fazer para te pedir pra ficar? O máximo que eu fiz, foi sussurrar um volta-meu-amor quando você apertou o botão do elevador, mas tenho certeza que você não ouviu. Eu não quero que você pense que eu sou patética ou algo do tipo, mas enquanto você estava no avião, indo pra sei-lá-onde, eu estava me sentindo miseravelmente triste. Não vou te pedir pra voltar, só estou retirando de dentro de mim esses sentimentos engasgados que tanto me sufocam. Quero de uma vez por todas a certeza de um fim ou a aposta no recomeço. Mas eu preciso saber que eu tentei.

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