quarta-feira, 17 de novembro de 2010



 “Cadê a tampa da minha panela, o chinelo do meu pé cansado, a metade da minha laranja. Ta em ebulição, vazando, transbordando, e nada da tampa da panela pra socorrer a lambança. É culpa da pressão que eu ponho em tudo isso! É o que dizem: desencana que uma hora ele aparece. O pé cansado já tentou calçar (á força) o chinelão que descola as tiras ao sapatinho e cristal. (...) E chega! Há anos peço o príncipe e só me mandam o cavalo. Fim de ano sem amar é deprê, hein! To megera o suficiente pra ver uma família feliz no shopping e pensar que aquela instituição não passa de uma união solitária de aparências (...). É claro que eu desejo o meu sucesso profissional, dinheiro, saúde, (...) mas nada de atacar para todos os lados nas simpatias deste réveillon. Não dá certo. Este ano eu vou focar no amor: calcinha vermelha, fitinhas vermelhas e as sete ondas vão ser puladas com a mão no coração, e só uma intenção: encontrar o danado. Ah, sejamos sinceras mulheres modernas. No fundo, no fundo, a gente quer mesmo é alguém pra dormir protegida no peito. Dizem que materializar os sonhos escrevendo ajuda, então lá vai: quero transar com beijo na boa profundo, olhos nos olhos, eu te amo e muita sacanagem. Quero cineminha com encosto de ombro cheiroso, casar de branco, ser carregada no colo, filhos, casinha no campo com cerquinha branca, cachorro e caseiro bacana. Quero ouvir Chet Baker numa noite chuvosa e ter de um lado um livrinho na cabeceira da cama e do outro o homem que amo. (...) Quero te certeza, ali no fundo da lama dele, de que ele me ama. Quero que ele saia correndo quando meu peito amargurado precisar de riso. (...) Que a gente brigue de ciúmes, porque ciúmes faz parte da paixão, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte do amor. Quero ser lembrada em horários malucos, todos os horários, para sempre. Quero sexo na escada e alguns hematomas, e depois descanso numa cama nossa e pura. Quero foto brega na sala, com duas crianças enfeitando nossa moldura. Quero o sobrenome dele, o suor dele, a alma dele. Que ele me ame como a minha mãe, que seja mais forte que o meu pai, que seja a família que escolhi pra sempre. (...) Quero que ele me torne uma pessoa melhor. (...) Que seja lindo, de uma beleza que encha de tesão, e que tenha um beijo que não desgaste com a rotina. Que sua remela seja sequinha e não gosmenta e que o tempo leve um pouco de seu cabelo. (...) Tem que amar tudo o que eu escrevo e me olhar com aquela cara de ‘essa mulher é única’. É mais ou menos isso. Achou muito! Claro que não precisa ser exatamente assim, tintim por tintim. (...) Bom, analisando aqui, dá pra tirar umas coisinhas. Deixa eu ver. Resumindo então: tem que dizer que me ama e me amar mesmo, tem que rolas umas sacanagens e não pode ter remela gosmenta. Pronto! E quando eu tiver tudo isso e uma menina boba e invejosa me olhar e pensar que ‘aquela instituição feliz não passa de uma união solitária de aparências’ vou ter pena desse coração solitário que ainda não encontrou o verdadeiro amor.”

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